Cristina Barroso Cruz
Laurence Vohlgemuth
Escola Superior de Educação – Instituto Politécnico de Lisboa
Ao longo dos últimos anos tem-se assistido em Portugal a uma transformação dos vários agentes envolvidos nos processos de participação cultural provocando alterações de papel e lugares e lugar dos artistas e das artes nas sociedades. Estas transformações abriram o espaço para o surgimento de novos profissionais capazes de desenvolver uma nova função: a mediação artística e cultural. A Licenciatura em Mediação Artística e Cultural (LMAC), veio dar resposta a um espaço que se encontrava por preencher: formar profissionais capazes de estabelecer uma relação entre produtores culturais e públicos, desenvolvendo estratégias de trabalho em territórios híbridos – arte e sociedade – assumindo um papel integrador (Matarasso, 2019).
Tal como acontece noutros países, também em Portugal, “Mediação artística e cultural” corresponde a um conceito pouco claro, usado em diferentes contextos com diferentes propósitos (Mörsch & Holland, 2015). As políticas do Estado Novo, levaram a um subdesenvolvimento cultural e à ausência de reflexões interdisciplinares sistemáticas sobre o papel que a arte e a cultura no desenvolvimento das sociedades, tendo reduzido a produção cultural a propaganda (Xavier, 2016; Damasceno, 2010; Portela, 1987) e, só após a entrada em democracia, as questões relacionadas com a arte, cultura e educação, começaram a ganhar relevância.
Com a democracia, a abertura do sector cultural a todos os públicos, tornou clara a necessidade de desenvolver uma nova abordagem aos processos de produção e fruição cultural passando o público a ser agente ativo e participativo neste exercício. Neste sentido, o debate sobre cultura e participação saiu da esfera académica, evidenciando a necessidade e a mais-valia de recorrer à cultura e à arte contribuindo desta forma para o desenvolvimento dos públicos e promovendo o exercício pleno da cidadania (Ferreira, 2019; Vlachou, 2019).
Pretendemos com esta comunicação contribuir para identificar e analisar o papel da Mediação Artística e Cultural para os vários agentes socioculturais (artistas, instituições culturais, mediadores, estudantes, públicos) e refletir sobre o papel da cultura para o desenvolvimento social sustentável (Cruz et al. 2021).
Referências
Cruz, C. B., Vieira, N., & Vohlgemuth, L. (2021). Degree in Artistic and Cultural Mediation (ESELx – IPL): a critical analysis on the role of the mediator and mediation process in the Portuguese context. Da Investigação às Práticas: Estudos De Natureza Educacional, 11(2), 118–137. https://doi.org/10.25757/invep.v11i2.268
Damasceno, J. (2010). Museus para o povo português. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.
Ferreira, L. S. (2019). Cultivar. In T. Fradique (Ed.), O público vai ao Teatro (pp. 114–124). Maia: Teatro Meia Volta e Depois à Esquerda Quando Eu Disser.
Matarasso, F. (2019). “Uma arte irrequieta: reflexões sobre o triunfo e a importância da prática participativa”. Fundação Calouste Gulbenkian: Lisboa.
Mörsch, C., & Holland, A. (2015). Time for cultural mediation. Retrieved from https://www.kulturvermittlung.ch/zeit-fuer-vermittlung/index.html
Portela, A. (1987). Salazarismo e Artes Plásticas. Lisboa: Instituto da Cultura e Língua Portuguesa – Ministério da Educação.
Vlachou, M. (2019). Anfi-teatro. In T. Fradique (Ed.), O público vai ao Teatro (pp. 105–111). Maia: Teatro Meia Volta e Depois à Esquerda Quando Eu Disser.
Xavier, J. B. (2016). As artes e a cultura no fio da navalha. In J. B. Xavier (Ed.), A cultura na vida de todos os dias (pp. 17–32). Porto Editora.
Cristina Barroso Cruz
Doutorada em Antropologia biológica (2012) pela Universidade de Coimbra, onde realizou a restante formação académica: licenciatura em Antropologia (1999) e mestrado em Evolução Humana (2004) e, uma formação em Património Cultural Imaterial ministrado em parceria pela Direcção Geral do Património Cultural / Museu Nacional de Etnologia / Universidade Aberta (2015). Participou até 2011 em diversos projectos de salvaguarda do património histórico e arqueológico enquanto Antropóloga física. Docente desde 2010 da Escola Superior de Educação de Lisboa (Instituto Politécnico de Lisboa) tem vindo a desenvolver trabalho em questões patrimoniais e da museologia quer no âmbito das licenciaturas e mestrados em que leciona quer nos centros de investigação a que pertence (ICArEBH – Universidade do Algarve e CHAM – Nova FCSH). Mais recentemente, tem desenvolvido investigação no âmbito da Mediação Artística e Cultural enquanto co-coordenadora da licenciatura com o mesmo nome e coordenadora do projecto “Entre: investigação em Mediação Artística e Cultural”, financiado pelo Centro Interdisciplinar em Estudos Educacionais (CIED) da ESELX. Faz também parte da equipa de coordenação deste centro e é Editora da Revista Da Investigação às Práticas: estudos de natureza educacionais.